A gota d'água

08:19 by Bruno Godinho

A gota de orvário pingou mais uma vez e escorreu sobre a maçã, tracejando um úmido e singelo caminho por onde passava. Não precisou muito tempo e o que era pingo, virou chuvisco, que se tornou chuva, tempestade e temporal. E do caminho fez-se uma tromba d’água que quem dera fosse rumo a um mar de água doce, mas como em qualquer oceano, de açúcar não tinha nada. Era o gosto desgostoso do soro. O indegustável sabor das lágrimas.

Por mais que quisesse controlar, a nascente parecia incessante e o dilúvio eminente. Vez ou outra alguém tentava fazer uma barragem. Tentava em vão. “Como podes ter uma cachoeira em teus olhos? Não tens motivo para estar feliz?” perguntava quem ao longe via as corredeiras. A resposta era sempre a mesma: “Tenho tudo que preciso para ser feliz. A bica sob minhas pálpebras transborda tristeza apenas para que eu dê o devido valor ao tsunami de momentos felizes que banham meu coração”.

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