Auto Psicografia

20:22 by Bruno Godinho


Estamos sempre a procura de algo. Mas espera aí, o que procurar se eu não perdi nada? Não perdi amigos, não perdi família, não perdi amor, nunca perdi. Apenas pedi para que não tivesse mais nada disso enquanto procurava por isso tudo.

A cada chamada não atendida, a cada visita não realizada, a cada bolo dado e a cada “oi” seco eu não ia deixando de lado quem estava ao meu lado, e sim, deixando a mim mesmo. Me deixei levar pelo trabalho, pelo cotidiano, pelo fantasma. Ah, esse fantasma que insiste em puxar meu pé toda a noite. Ou será que sou eu pegando no pé dele? Certo dia passei por uma vitrine e no reflexo vi outra pessoa. E que pessoa! Um exemplo a ser seguido. Um exemplar que segui e que me seguiu e que segui e que me seguiu e que cedi. Hoje sou tudo que queria ser. Tudo o que sonhava ser: apenas um sonho. Que pesadelo!

Vazio, volátil, voraz, me sinto realizado. Sou a imagem que projetei, imaginem! Desfiz de tudo que tinha só para ser alguém. Desfiz de tudo que não tinha só para ter alguém. Me desfiz. Agora, desmaterializado em mim mesmo já não procuro mais ser, já não procuro mais ter. Como todo fantasma, como todo sonho, o que vale é parecer. Parecer real, parecer verídico, aparecer. Quem sabe com uma nova aparência eu não consiga me mostrar de outra forma: formatado. Em forma. Matado.

Um dia apareço, padeço e quem sabe mereço meu próprio apreço. Mesmo que pague um novo preço. Só isso que peço, como anteriormente pedi e perdi. Perdi? Então vou à procura enquanto me contento em parecer ser feliz. E vou pela sombra.

                                                                                               

                                                                                           Assombração.

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