Ainda bem que não somos assim.

20:58 by Bruno Godinho

Dando continuidade ao post anterior em que eu reclamava de toda a sujeira da programação infantil dos anos 80, vou agora manifestar minha total desaprovação por toda a beleza da programação infantil atual e da geração posterior à minha.

Se por um lado quem tem entre 20 e 30 anos demonstra descaso pelos problemas cotidianos e desinteresse em procurar soluções pertinentes, quem tem idade menor apresenta um comportamento muito pior.

Se na minha época os pais já não tinham tempo para criar os filhos, agora delegaram a criação totalmente aos meios de comunicação, principalmente a TV. É incrível um programa ser censurado por transmitir conteúdo indevido à determinada faixa etária, quando o controle sobre quem assiste a esse programa deveria ser dos pais.

Se antes a única coisa que se ouvia antes de um desenho animado era: “Versão brasileira: Herbert Richards” hoje somos bombardeados por “Classificação Livre”, “Programa recomendados para maiores de 14 anos”, etc. Afinal, quem manda no que quer ver é quem está com o controle remoto ou quem produz o conteúdo? Na minha época era o primeiro, agora... ninguém mais sabe. E como ninguém sabe de nada acharam melhor que continuem sem saber. E que venha a censura.

Claro que essa censura light é bem mais agradável que sofrida por nossos pais, mas não deixa de ser um sistema de controle de informação. E não importa se eles antigamente cortavam muito e agora cortam pouco. Dependendo onde for o corte você vai sangrar da mesma forma.

A alegação é que restringindo conteúdos “impróprios” protegeremos nossas crianças e faremos um futuro melhor. Pasmem, hoje criança nenhuma acredita em Papai Noel e tem gente adulta que acredita nesse blá-blá-blá.

Cansei de ver o Jerry massacrar o Tom; o Pica-Pau colocar em prática a Lei de Gerson; o Manda Chuva e o Zé Carioca morrerem de preguiça e o Zé Colméia roubando comida. Aliás, se ele existisse de verdade, hoje estaria preso por furto qualificado e formação de quadrilha junto com seu cúmplice Catatau. Mesmo bombardeado por todo tipo de informação, jamais apresentei um comportamento violento, homicida ou que pudesse ser julgado incorreto. Então, pra quê censurar tanto o mundo infantil?

Falo e repito aqui: Essa onda do “politicamente correto” é um erro! Desestimular o uso de armas de brinquedo não freia a violência, colocar Teletubbies fazendo ações idiotas não deixa ninguém mais inteligente e impedir que coiotes cacem avestruzes utilizando planos mirabolantes não vai fazer ninguém amar mais ou menos os animais. Independente do que está sendo transmitido, a conclusão que a criança vai tirar é baseada em sua formação moral. Nos conceitos de certo ou errado ensinados pelos pais.

Respeito é bom e todo mundo gosta, mas chegamos a um ponto que tiraram todo o tempero da comida alegando que o sal causa hipertensão. Desse jeito até o amigo invisível de uma criança perde o colorido.

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Por que somos assim?

19:42 by Bruno Godinho

Desastre em Santa Catarina, atentado terrorista na Índia, crise financeira no mundo todo, padre pedófilo... nada disso me causa estranheza. Nada mais me choca, a verdade é essa.

Nasci numa época bem interessante: a inflação galopante somada à recém pseudo-democracia adicionada ao também recente liberalismo feminista fez com que eu e a maioria de meus contemporâneos padecessem do mesmo mal: excesso de companhia da televisão. Não entendeu nada? Espere o comercial que eu explico.

Com a política de congelamento dos preços do Sarney e o quente “Plano Verão” de Collor passamos anos e anos com uma economia estruturada em alicerces de vidro. Quem tem mais de 20, com certeza sabe do que estou falando. O salário mínimo era vergonhoso (como se o de hoje não fosse) e a inflação destruía o poder de compra de qualquer um. Lembro das intermináveis “compras coletivas” que meu pai fazia, reunindo um grupo de amigos para comprar vários produtos no atacado para fazer o dinheirinho valer um pouco mais. Com a situação financeira tão complicada só bastava às mulheres aproveitarem as cinzas de tantos sutiãs queimados e invadirem o mercado de trabalho a fim de complementar a renda familiar.

Assim, para garantir que tivéssemos carne na janta meu pai trabalhava o dia todo em uma empresa, a noite fazia bicos em outra, enquanto minha mãe cortava cabelo, fazia salgadinho, lavava e passava roupa e ainda cuidava da casa e de dois filhos. Com os pais tão ocupados só restava às crianças passar boa parte do tempo com a melhor babá e mais eficiente método de controle da natalidade já inventado. A TV a cores.

Hipnotizado do início ao fim, passei/perdi muito tempo em frente à televisão. E diante de tudo que vi ser transmitido na infância, agora todas as coisas que eu vejo me parecem iguais. E não é para menos. Com o fim da ditadura militar todo mundo achou que podia fazer o que quisesse na TV. Se isso foi bom? Sinceramente não sei. A única coisa que tenho certeza é que as crianças da minha época estavam sempre em boa companhia:


O grupo Balão Mágico (que desde aquela época já esboçava o que seria a atual “cota para negros”, inserindo um moreninho por último em sua formação) havia perdido lugar para a Xuxa. Uma linda gaúcha, atriz de filmes sensuais que usava micro shorts, bota de cano longo e era acompanhada por uma dezena de outras loiras com figurino tão atrativo quanto.




Em outra emissora podia se encontrar o Fofão, um ser horrendo que parecia ter os testículos na cara;



o Bozo, conhecido alcoólatra, gravava muitas vezes embriagado e que em uma ocasião chegou a sugerir que os pais de uma criança fosse tomar naquele lugar (tem até vídeo no Youtube);

falando em alcoólatra não poderíamos esquecer do finado  Mussum, o melhor dos trapalhões;

tinha também a Mara Maravilha, que assim como a Xuxa era sexy simbol e chegou a posar nua;

o Sérgio Malandro, já até assumiu ser usuário de cocaína e ainda por cima apresentava um programa intitulado “A hora do capeta”.

Lembro que a única apresentadora infantil dessa época que era um pouco equilibrada chamava-se Vovó Mafalda. Até onde se sabe ela não apelava para a sexualidade, não bebia e não cheirava. Só tinha um defeito: era o maior dos travecos.

Com essas companhias não é de se estranhar que hoje achemos tudo “normal”. Conheço uma infinidade de pessoas que lêem o jornal Daqui cedinho que é para começar bem o dia, almoçam assistindo ao Chumbo Grosso e mais tarde ainda dão risada do programa do Datena. Barbaridade é o que assistíamos na infância, o resto é brincadeira de criança.

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