Tá pra nascer quem nunca morreu por amor.
Quem nunca se matou por rancor.
Quem não deixou de viver por temor.
Ainda tá pra nascer, mas não nasceu.
Já vi gente que nasceu chorando, cresceu lamentando e faleceu
resmungando.
Também já vi quem nasceu aos berros, mas ao abrir os olhos
sorriu.
Riu de bobeira, riu de besteira, riu só porque era mais
gostoso que chorar.
Só riu.
Pode ser riso forçado, branco ou amarelo.
Pode ser espontâneo, pode ser riso banguelo.
Pode ser com dente, com beiço.
Pode ser com som, com silêncio.
Vale mais um bobo alegre que um sabido triste.
Vale mais quem vive e não só quem sobrevive.
Vale mais a forma com que levamos a vida do que a vida que
levamos.
Vale nascer pobre ou rico, sadio ou Flamenguista.
Vale tudo.
Só não vale morrer insatisfeito, amargurado.
Até já nasceu quem goste do doentio sabor de soro de
hospital que a lágrima tem,
mas tá pra nascer quem não goste de uma contagiante
gargalhada.
Tá pra nascer quem não sofre.
Tá pra viver quem não liga pro sofrimento.
Inevitavelmente todo mundo nasce aos prantos,
mas viver chorando é opcional.
