Desceu queimando o peito e quase voltando. Era assim que
sentia toda vez que engolia esse troço amargo, viscoso como o pus, que aparenta
ser suco biliar e que cheira a fluído de freio batido com enxofre. Ô coisa repunante
e repugnante!
Mais um gole e mais uma cara feia era feita, quase sempre
seguida de um urro de desespero. Não há em todo o mundo aguardente mais forte e
nem caninha mais bruta. Mesmo assim, lutando contra seu estômago o cliente batia
no balcão e insistia ao amigo garçom mais um trago. O velho barman passara a
vida servindo isso. Conhecia todos os tipos de reação da clientela: tinham os
que perdiam a cabeça e partiam para a briga; os que se sentiam fortes, ricos e
queriam dominar o mundo; e a maioria, os que assim como este, incontrolavelmente
choravam. E não eram lágrimas comuns. Muito pelo contrário. Era o soro da vida
pingando das pálpebras como se fosse o próprio sangue expulso do coração. Não
por emoção, mas por desesperança.
A gota que escapava à córnea escorria pela maçã trêmula do
rosto e corria por toda a face amargurada adentrando até pelo nariz. Às vezes,
a respiração ofegante era interrompida pela apneia do choro cortando toda a
inspiração. Sorte do cliente, pois diante de tanta dor se afogar na própria lágrima
até que não seria má ideia nesse momento.
Ainda fraco e com o estômago em chamas, levantou a cabeça e
pediu a garrafa toda. O garçom negou afirmando que nem o mais valente dos
homens e nem a mais vigorosa das mulheres conseguiria virar todo o conteúdo de
uma só vez. “Por isso existe o dosador” - Explicou.
Desesperado, o cliente partiu para a súplica: “Por favor,
sirva-me então mais uma dose agora! Preciso de uma vez engolir todo o meu
orgulho”.
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