A Besta

07:52 by Bruno Godinho


A Besta segue ensimesmada. Em si, empesteada. “Deixe de bestagem!”, todos diziam, mas ela não deixou. A Besta ou a Fera, como era chamada, já foi uma pessoa comum. Nasceu de pai e mãe, teve irmão, periquito e cachorro. Por mais que tentasse o amor, aos poucos foi sentindo as dores do mundo e delas vieram cicatrizes. Cortes feriram a carne, dilaceraram sua face, sangraram o coração. De tanto apanhar de todos o tempo todo adquiriu essa imagem horrenda. Quanto mais assustadora ficava, mais apanhava e mais assustadora ficava. Num extinto animal de sobrevivência provou que de besta não tinha nada. Se isolou no alto de uma torre. Trancafiado na masmorra ou vagando furtivo pela floresta, hoje a Besta vive sem o contato com as pessoas, tendo como única companheira a memória de quando era uma pessoa feliz. E com essa lembrança, prometeu a si mesma retomar o contato com a civilização quando souber que ninguém mais a fará de besta.

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