A crise dos 140

23:10 by Bruno Godinho

Lembro do tempo em que o já defasado sistema público de ensino me ludibriava com uma simples questão: “Como foram suas férias?”.

Em todo início de semestre passávamos longas tardes fazendo redação sobre o recesso escolar. Parecia um ritual sagrado da escola estadual.

Matemática? Ciências? Inércia total. Tudo para que as aventuras da pirralhada fossem para o papel. Um papelão.

A educação era assim, a professora ganhava tempo enquanto gastava o nosso. Ah, como a tarde passava devagar. Quantas tardes perdidas.

Seja por má vontade ou mesmo incapacidade, meus professores insistiram nas redações e esqueceram o resto. Afinal, quem precisa saber somar?

Sei que hoje, só jogo Banco Imobiliário com uma calculadora ao lado. E se me perguntarem a capital de Espírito Santo, logo respondo: Amém.

Mesmo caquéticas, as aulas me fizeram tomar gosto de ler, de escrever e de criar. Tudo que não era bem visto no reino do decoreba.

Meu limite eram as margens, nunca as linhas. É nostálgico ter livre uma tarde inteira e a quantidade de letras que minha BIC quisesse.

Entre umas férias e outras, o relógio acelerou, a caneta perdeu a tinta e o papel, o uso. Tudo mudou. E mudou pra sempre.

Esqueçam os parágrafos, as orações,os períodos e até mesmo os verbos. Nada disso cabe nos famigerados 140 caracteres do modismo da internet.

Será?

Embora limitado, o Twitter tem espaço de sobra para o mais importante: a boa idéia. É ela que dita a pertinência da mensagem.

Quando o conteúdo é apropriado, vale a máxima de que pra bom entendedor, um pingo é letra.

Vocês podem até não ter percebido, mas esse texto foi escrito em “blocos” de até 140 caracteres.

Cada “bloco” possui uma informação. Uma mensagem que tem sentido se lida neste contexto ou não. Muitas já foram até tuitadas.

Quem concorda com Saramago ao afirmar que “o Twitter é a antecâmara do grunhido”, peço que repense.

A força da comunicação não está na forma de dizer e sim no que é dito. Se não, ainda estaríamos usando sonetos.

Não sei por que o Twitter virou moda. Tampouco por que se tem tanto receio de suas mensagens curtas.

O fato é que quem está verdadeiramente em crise é a criatividade humana, não o tamanho da criação.

Note que até hoje as crianças tem que responder “Como foram suas férias?”, só trocaram a caneta por pouco mais de uma centena de caracteres.

@tibrao

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1 comentários:

Anônimo disse... @ 8 de fevereiro de 2011 às 16:04

Mas você usou 20 tuites para disfarçar seu argumento, ou teve de usar 20 para prová-lo?
Não se engane. Para comunicação ágil, tiradas inteligentes e marketing/propaganda, o Twiter é fantástico. Mas para outras é uma plataforma inútil.
Fernando Sabino poderia escrever tuites geniais e ainda sim não seria capaz de passar toda a mensagem de "O encontro marcado" em 140 caracteres.

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